
PORTIMÃO BOX CUP 2022
9 de Julho, 2022
Texto: Yuri Lopes Pereira
Fotografia: Tiago Miranda
Video: Fillipe Coutiño, Marcel favery
O PORTIMÃO BOX CUP 2022 é um Torneio Internacional de Boxe Olímpico organizado pela Escola de Boxe de Portimão, com o apoio institucional do Município de Portimão, Freguesia Portimão, Instituto Português doDesporto e Juventude e da Associação de Boxe do Algarve.
Sexta-feira, 13 de Maio
O torneio começou com o desafio de potenciar o desenvolvimento competitivo dos atletas nacionais, testando-os contra atletas mais experimentados, de outras nações – uma importante componente pedagógica, permitindo aos atletas portugueses enfrentar diferentes estilos e estratégias e criar ligações com clubes e atletas fora de Portugal.
O Portimão Box Cup assume-se como um dos grandes torneios internacionais em Portugal, atraindo mais de 200 atletas de todo o mundo, que competem em 2 ringues ao longo de 3 dias. E o primeiro dia não desiludiu. Foram quase 40 combates e o evento começou com um estrondo. No primeiro combate, em boxe feminino, Ariana Semedo venceu logo no primeiro assalto. O árbitro determinou que a sua adversária não estava em condições de continuar, resultado de um boxe de precisão e potente por parte da Ariana. No outro ringue, Rita Rocha e Nayra Luque, na categoria sénior (57kgs), protagonizaram um dos combates da tarde. Foi um combate que opôs dois estilos diferentes, mas muito complementares, onde a Rita jogou mais em golpes rectos, a entrar e sair com combinações de 2 a 3 golpes e a Nayra jogou na expectativa de contra golpear os ataques da Rita. No fim, a vitória sorriu a Nayra, num combate muito renhido, mas o verdadeiro vencedor foi o boxe nacional, que vê o boxe feminino a tornar-se cada vez mais popular.
Durante a tarde, os atletas da casa encheram o pavilhão de apoiantes. André Popik perdeu a decisão contra o potente e combativo Tomé Cabrita, mas teve sucesso com os seus golpes directos e deslocações. Pedro Cozari fez um combate cheio de garra contra um talentoso Vladyslav Hrystyk, que mereceu o respeito do público. Hugo Palma entrou mal no seu combate, mas o seu coração e o trabalho tático feito nos intervalos com o treinador, permitiram-lhe dar a volta e vencer o excelente Yassine Rejeb.
Nos combates da noite, em sénior elite masculino (63,5kgs), Ayrton Luz e David Duarte venceram os seus combates. Ayrton mostrou diversidade no seu jogo, mostrando ser capaz de contra golpear e jogar num estilo defensivo, mas também de jogar um boxe de pressão muito efetivo, vencendo um forte Nathan Herzog. David trouxe um boxe mais aprimorado, revelando consciência defensiva no seu estilo de pressão. No fim do combate soltou os seus diretos, que acabaram por pontuar muito e podem ter sido o motivo da sua vitória, num dos melhores combates da noite, contra um técnico e rápido Adrián Gombau. Albertino Monteiro, outro dos grandes atletas nacionais nesta categoria, acabou por perder o combate, tendo sido colhido por um golpe a frio, no primeiro assalto. Oier Conde mostrou um excelente jogo de pés que lhe permitiu estar no sítio certo para contra golpear, com precisão milimétrica, o Albertino.
O Portimão Box Cup começou e terminou o primeiro dia com KO’s, prometendo mais dois dias repletos de acção. No fim, queremos ver os atletas portugueses ser competitivos e vencer os atletas do mais alto nível internacional e o Portimão Box cup é, sem dúvida, um grande passo nesse sentido.


















Sábado, 14 de Maio
O torneio Portimão Box Cup regressou para o segundo dia de competição. E se este evento começou com um estrondo no primeiro dia, elevando a espectativa para o desenrolar do torneio, o segundo dia não desiludiu. Durante a tarde e a noite de sábado realizaram-se 60 combates, com 30 em cada ringue, um volume de combates que não é habitual em Portugal, mostrando o excelente nível de organização da prova. Os primeiros combates foram disputados pelos cadetes, o futuro do boxe.
A Carolina Souto revelou um boxe muito paciente frente à atleta espanhola, aparentemente mais experiente, conseguindo assim a vitória. Mostrou um grande potencial, não tanto a nível técnico, algo que pode ser trabalhado, mas sobretudo a nível tático e na sua vontade de vencer. O pavilhão vibrou com os atletas da casa que competiram ao longo da tarde.
A primeira grande estrela da casa foi o Elizandro Monteiro, que teve pela frente um Tiago Clérico muito combativo. Mas a precisão nos golpes do Elizandro ditou a sua vitória. Luis Bone fez um combate cheio de garra, mas acabou por perder contra o mais preciso Bobby Graham. A competir em dois combates em simultâneo estavam Mateus Pinheiro e Joel Tomás. Mateus Pinheiro venceu o seu combate frente ao atleta espanhol, emulando o famoso estilo de Mike Tyson, o “peek a boo”, e o Joel Tomás fez um dos melhores combates por parte de um atleta português até esse momento. A jogar com um boxe defensivo, o Joel foi incrivelmente efetivo nos seus contras e acabou por vencer o seu combate quando o árbitro determinou que o seu aguerrido adversário espanhol não podia continuar.
Durante a sessão da noite decorreram os combates mais esperados do dia. Na categoria de sénior elite, Tomás Silva venceu unanimemente o seu adversário Wilson Sousa, que no dia anterior tinha feito um excelente combate. O Tomás serviu-se do jab e da sua experiência para jogar no contra-ataque e dominar o seu combate, sagrando-se campeão do torneio na sua categoria (60 kgs). O olímpico David Pina defrontou Diego Dueñas na final da categoria de 54 kgs. O combate teve apenas um sentido, e o Cabo-Verdiano navegou suavemente para uma incontestável vitória. Ayrton Luz e David Duarte, que tinham feito grandes combates no dia anterior, viram a vitória escapar para os seus adversários. O Ayrton defrontou Salvador Luque, um exímio atleta espanhol da equipa Seda Alvarez, que esgrimou com contra-golpes na meia distância para conseguir uma grande vitória. O David teve grandes momentos contra o atleta da seleção espanhola, Oier Ibarreche, sobretudo no primeiro assalto onde se mostrou muito concentrado defensivamente. Mas ao longo do combate, a experiência de Oier e o seu incrível trabalho de pés foram determinantes. Oier usou e abusou dos diretos, para os quais o David deixou de ter resposta defensiva a partir do segundo assalto e Oier acabou por conseguir mais uma grande vitória. Apesar disso, o David tem mostrado uma grande evolução, sobretudo a nível defensivo, algo que a este nível é crucial, e a mostrar que tem potencial para grandes participações em provas europeias.




















O combate da noite está reservado para os profissionais Miguel Amaral e Ricardo Costa, a representar o Vitória Nobre Arte e o Águias da Musgueira.
Os catorze minutos que se seguem são de uma euforia crescente, de um ruído que nasceu do silêncio e agora se estende pelo entardecer urbano entre a Praça da Alegria e a Avenida da Liberdade. Ricardo Costa faz uma entrada dramática no recinto – o seu clube e a sua equipa têm uma noção singular do espectáculo que é necessário e nativo do Boxe. Miguel Amaral percorre o caminho até ao ringue sem outra banda sonora do que a emoção dos próximos, dos familiares, do Vitória.
O combate é conduzido pelo árbitro Orlando Jesus, conhecedor da casa, e começa forte e disputado. Lutam dois pugilistas experimentados, duros, homens cuja vida acrescenta carácter à sua prestação entre as cordas – ambos procuram o brilho único do momento final.
Miguel Amaral vence. É elevado por uma homenagem sentida que devolve o silêncio ao Parque, enquanto a noite cai e o calor nos lembra agora a promessa de um Verão longo. O recinto explode com a celebração derradeira e fica já na memória da cidade este regresso poderoso de um desporto ardente. Em cem anos cabe uma infinidade de histórias – a das lutas, com as mãos e o coração, vai continuar.